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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Artigo: Over The Rainbow: Como o Arco-Íris surgiu em 'O Mágico de Oz'

































Por Claudio Erlichman (articulista convidado)

"Deixa os rapazes ficarem com a droga desta música. Matar ela não vai!".
Louis B. Mayer



Embora não tenha sido composta para um musical, e sim para um filme, a canção Over The Rainbow acabou se tornando universalmente conhecida, e até hoje, 73 anos após ter sido cantada pela primeira vez, continua sendo um sinônimo de otimismo:



Somewhere over the rainbow
Way up high,
There's a land that I heard of
Once in a lullaby.

Somewhere over the rainbow
Skies are blue,
And the dreams that you dare to dream
Really do come true.

Someday I'll wish upon a star
And wake up where the clouds are far
Behind me.
Where troubles melt like lemon drops
Away above the chimney tops
That's where you'll find me.

Somewhere over the rainbow
Bluebirds fly.
Birds fly over the rainbow.
Why then, oh why can't I?

If happy little bluebirds fly
Beyond the rainbow
Why, oh why can't I?


A MGM originalmente planejava ter Jerome Kern escrevendo o score musical para 'O Mágico de Oz' (The Wizard of Oz, 1939), mas quando ele sofreu um derrame, o estúdio se voltou para Harold Arlen e E.Y. "Yip" Harburg. Eles produziram uma série de canções brilhantes que conduziam a história em trechos extensivos como "Ding Dong! The Witch is Dead" (vídeo abaixo):



nos padrões das operetas de Gilbert & Sullivan, como em "If I Only Had a Brain" (vídeo abaixo):



ou na contagiante "We're Off to See the Wizard" (vídeo abaixo):



Só ficava faltando para eles escrever uma balada de "enternecimento" e saudade, para Dorothy cantar no começo do filme.

Harold Arlen e Yip Harburg queriam escrever uma balada extraordinária para Judy Garland, mas o compositor ficou bloqueado. "Eu jamais vou conseguir dizer para você o tormento e angústia que um compositor passa quando todo o score já está pronto, mas ele ainda não conseguiu aquele grande tema que o Louis B. Mayer estava esperando", disse Harburg. "O contrato era de catorze semanas, e nós estávamos na nossa décima quarta semana. Se trabalhássemos mais uma semana, nós não seríamos pagos por ela. Eu certamente transpirava, mas a inspiração não vinha para começar uma canção." Então, numa noite, Arlen se dirigiu até a famosa drugstore Schwab's, na Sunset Boulevard, aonde muitas estrelas foram descobertas para a fama. De repente uma melodia clara e completa estalou em sua cabeça. Mais tarde ele recordou, "Isto foi como se Deus tivesse dito: - Bem, aqui está. Agora pare de se preocupar".

Arlem dirigiu até a casa de Harburg mesmo sabendo que já se passava da meia noite. Entretanto, quando Harburg ouviu a melodia, ele comentaria: "Meu coração parou. Ele tocou com tal extensão sinfônica e bravura que a minha primeira reação foi: - Oh! Não para a pequena Dorothy. Esta música é para Nelson Eddy". Então eles levaram a melodia para o amigo Ira Gershwin. Quando Arlen tocou de novo a música com as mesmas harmonias grandiosas, Ira pediu a ele que largasse a pompa e tocasse a música com somente um dedo. De repente a beleza e a simplicidade da melodia começou a brilhar.

Frank Baum, o autor de 'O Mágico de Oz', nunca mencionou um arco-íris em seu livro, mas Harburg pensou que uma garotinha no árido e enfadonho Kansas, somente encontraria cor em sua vida olhando para um arco-íris. Sua inspiração, por sua vez, deu ao diretor Victor Fleming a idéia de filmar as sequências do Kansas em tons de marrom e sépia, depois trocando para Tecnicolor quando Dorothy entra no Reino de Oz.

Enquanto o filme era rodado, o diretor (na verdade foram cinco diretores), os produtores, e praticamente todo mundo, achava que a canção deveria ser cortada porque ela tirava o ritmo do filme. Após cada preview, eles a tiravam, mas após cada corte os compositores, apoiados por um jovem assistente chamado Arthur Freed, que também era um compositor, invadiam o escritório de Louis B. Mayer adentro para brigar por ela. Mayer (um dos fundadores e chefe da MGM), que podia ser um tirano, tinha um fraco por compositores. Finalmente ele disse a Freed: "deixa os rapazes ficarem com a droga desta música. Matar ela não vai!".

Over the Rainbow acabou se tornando uma canção clássica norte-americana, venceu o Oscar de Melhor Canção, além de ser a canção carro-chefe de Judy Garland. O American Film Institute a elegeu como a maior canção já composta para um filme em todos os tempos, na sua lista AFI 100 Anos. 100 Canções".


Veja abaixo a interpretação ula-ula-cult de Israel "IZ" Kamakawiwoʻole para Over the Rainbow:



Finalmente em 1987, Over the Rainbow pode ser escutada nos teatros, quando 'O Mágico de Oz', com o mesmo score do filme foi levado aos palcos pela Royal Shakespeare Company. No elenco original tivemos Imelda Staunton como Dorothy.


Ouça aqui a versão de Frank Sinatra:



E aqui a de Kristin Chenoweth:



Dez anos depois tivemos uma montagem de curta temporada no Madison Square Garden, em Nova York. Co-produzida pela Royal Shakespeare Company e a Paper Mill Playhouse, tínhamos no elenco Roseanne Barr como a Bruxa Malvada do Oeste. Esta produção foi reencenada no ano seguinte, também no Madison Square Garden, desta vez estrelando Mickey Rooney como o Mágico e Eartha Kitt como a Bruxa Malvada do Oeste. Desde 2008 até janeiro de 2012 tivemos uma turnê americana desta versão do espetáculo, com novas tecnologias para a cenografia e efeitos especiais, que se revelou um sucesso, rodando em cidades por todo os EUA.


Abaixo, em primeira-mão, uma estrofe da versão brasileira que Claudio Botelho fez para Over the Rainbow:

"Além do arco-íris
Um lugar
Que eu ouvi
Na canção feliz
Que me fez sonhar."



A versão completa poderá ser conferida em breve na montagem de 'O Mágico de Oz', com direção da dupla Charles Möeller & Claudio Botelho. É esta mesma sensacional superprodução da Royal Shakespeare Company, com estreia prevista para junho, no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro.


FONTES:

- Encarte do CD "The Wizard of Oz" 1998 Madison Square Garden Cast Recording, TVT Records.
- The American Songbook: The Singers, Songwriters & The Songs, de Ken Bloom e Michael Feinstein.
-"Spirited trip down yellow brick road / Review of 'The Wizard of Oz' at the Barbican", The Times, December 18, 1987, de Jeremy Kingston.
-Who Put the Rainbow in the Wizard of Oz?, de Harold Meyerson e Ernie Harburg.

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